sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Salada de Frutas

À sexta-feira há trânsito. À sexta-feira há sempre mais trânsito do que nos outros dias. São 19h, porra. 19h07. 19h09. Elevador, carro, prego a fundo a caminho de casa. O eixo norte-sul entupido, metade feito pela berma porque a minha saída é já ali. E logo nesta sexta-feira onde, para além de trânsito, há muita ansiedade.

Chegar a casa apressada, pegar na camisola, cachecol e seguir viagem, já em cima da hora. Gosto sempre de fazer o caminho para o estádio a ouvir uma música que goste. Merda, esqueci-me de pagar a subscrição do spotify, mas o shuffle dá-me o Drake, que naquele momento faz todo o sentido: vou a caminho de casa, o Sporting vai jogar dentro de minutos com o rival da fruta.
Perco o metro, mas estranhamente 1 minuto depois chega outro. Olho para o relógio de 5 em 5 segundos e começo a desenhar cenários. Vou perder o início, vou tão perder o início! E se o Sporting marca e eu não estou lá para ver? Vou o caminho todo a pensar nisso e parece-me algo tão real (à parte: vou concorrer ao Secret Story 6 com o segredo "Prevejo o futuro").

Chego ao meu lugar no momento do apito e dois minutos depois estava sem voz de tanto ter gritado golo. Do Joanathan Silva, que tinha acabado de perguntar para o lado quem era, e que fez um jogo enorme, indo a todas as bolas no seu flanco e não deixando passar uma (a quota parte de culpa no empate é discutível). Estava descrente para este jogo: o Porto vem de dois empates na liga com exibições medianas, previa entrada em força em campo. Mas afinal, foi o Sporting a impor o ritmo e eu a transbordar orgulho no meu cantinho no B10. Há muito tempo que não via futebol tão bonito em Alvalade. Nos primeiros 30 minutos de jogo não falhámos um passe e cortámos a maioria dos lances, sem merdas. Nós contra uma equipa que vale 10 vezes mais do que a nossa. O Sporting a ser um rolo compressor para cima de uma fruta sem criatividade. Pernas e preparação física é que existem em menor escala ali para os lados de Alvalade, portanto adivinhava-se a reviravolta do Porto, que para mim é, por muito que me custe a admitir, a equipa que joga melhor futebol neste momento.

Os últimos minutos da primeira parte já foram sofríveis, à medida que o fraco Porto se ia impondo no meio campo, mas os segundos 45 minutos foram a prova de que nos faltam muitas opções: aos 60 minutos o Carrillo já não dá mais, depois de ter dado tudo. Aquele que tem vindo, época após época, a ser posto em cheque, parece que finalmente atinou e quer brilhar e provar que é o extremo que se dizia que era. O Nani, muito acima dos seus companheiros, também já não dá muito mais, e a deixar-se levar pelas trocas de bola dos azuis e brancos que o vão desgastando. O Adrien também mostra que está de volta ao que era, assim como o William. João Mário a afirmar-se como titular indiscutível (a sério que continuávamos a insistir no André Martins quando temos este diamante em bruto?). Mas o pior vem depois: Capel a ser Capel (apesar do brilhante remate no final que merecia ter entrado), Mané a ser Mané (ainda não fizeste uma este ano, amigo), Montero a err.. fazer não sei bem o quê.
No meio disto tudo, um auto golo do Naby Sarr. Tenho-o tentado defender porque acho que ele tem potencial apesar de se mostrar ainda inseguro, mas depois de nos ter comprometido tanto contra o Maribor como contra o Porto, começo a ficar sem argumentos.

Apesar da irritação, saio de Alvalade feliz por ter visto um bom jogo de futebol. O Sporting está bem de saúde e tem argumentos para se bater por um bom lugar no campeonato e não envergonhar ninguém nas competições europeias (quero desde já excluir o Chelsea desta permissa).

Terça-feira há mais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Depois do coma

Faz hoje uma semana que o ansiado regresso à Champions se transformou num pesadelo que tentei esquecer. Um jogo sem brilho, sem garra, sem emoção, sem glória. Um golão do Nani a reacender a esperança e um erro da dupla de centrais a deixar cair as já parcas ambições.

Ora vejamos: jogar para ganhar por um golo nunca foi boa ideia, muito menos ao nível da rainha das competições. Como se não bastasse, era obrigação da equipa dar tudo por tudo; tendo em conta todos os problemas de liquidez. Meio milhão de euros deitados por terra nos últimos minutos de jogo perante um erro infantil.
Mas não vamos apenas crucificar os nossos centrais: o problema de (falta de) garra é, infelizmente, transversal a toda a equipa. Falta brilho num colectivo onde o filho pródigo, agora de regresso, teima em destacar-se. O jogo do Maribor foi apenas mais um que veio comprovar esta tendência.

Não sei se o balneário precisava de um abanão, diz que fizemos um grande jogo contra o Gil Vicente que não consegui ver.

O que importa é olhar para a frente e faltam dois dias para este cenário. Que saudades destes dias.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Hoje

Hoje é o dia de trabalhar a ritmo estonteante para, quando chegar à hora de saída, não ficar nada por fazer. Hoje é o dia de olhar para o relógio de meia em meia hora para ver que horas são.

Independentemente do resultado, hoje é o dia em que o hino volta a soar para o Leão. Depois do infortúnio que aconteceu ao 5por7ing na última vez que jogou a Champions, hoje é dia de dar a volta por cima.

Vamos equipa!


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O início

Para meu próprio mal, nasci a gostar demasiado de futebol. Felizmente, puxei ao lado paterno da família nas cores clubisticas e com pouco mais de 1 ano já chamava pelo pótingue (desculpa, mãe. Sabes que a nossa relação acaba por ter muito mais piada pela guerra que se instala em casa em dias de derby. Ninguém te mandou seres lampiona e tão doente quanto eu).

Sou doente: comecei a ir ao estádio com 5/6 anos pela mão do Tio F. e do primo M. (obrigada, obrigada obrigada) melhor companhia dos saudosos bancos de pedra do velhinho Alvalade. Melhor família, esta que também me fez sócia em 1995. Com pouco mais de 10 anos, já discutia que nem gente grande tácticas e foras de jogo. Ainda sei dizer o 11 dos tempos do Figo, Oceano e do Balakov. Fui para a rua bater tachos e festejar o campeonato, duas vezes. Chorei de alegria e gritei até ficar sem voz com o golo do Miguel Garcia em Alkmaar, chorei de tristeza no dia em que perdemos a Taça UEFA em casa. Insultei todos os árbitros e as mães repetidamente em Alvalade. Ainda hoje o faço.

Há  coisas que não se explicam. Regressar a Alvalade e ouvir o estádio voltar à vida, depois de alguns anos em surdina. Ver os adeptos unidos e a gritar a uma só voz, a esperança renascida novamente no coração de muitos que ousaram deixar a paixão desvanecer. Este ano voltamos à Champions e tudo: depois da pior época da história, voltámos em força, contra tudo e contra todos, e conquistámos com muita dignidade um segundo lugar.

Queria também terminar a dizer que as leoas são animais que têm direito a músicas lindas.